sábado, 1 de maio de 2010

Maçãs estragadas

Roberto Camargo

Untitled-2 Apesar de um investimento anual de mais de 10 milhões de reais na merenda escolar, alunos de escolas e centros infantis de Londrina recebiam, até o ano passado, alimentos de qualidade inferior ao padrão contratado, ou mesmo deteriorados, conforme diversas denúncias que levaram a uma investigação da empresa fornecedora, a SP Alimentação. Mas não foi só isso, havia também indícios de superfaturamento e descumprimento do cardápio determinado pelo contrato. Diante das irregularidades, o governo interino de José Roque Neto determinou uma vistoria ampla do serviço, e chegou a ameaçar um rompimento do contrato firmado em 2006, na gestão petista de Nedson Micheletti. Conversa vai, conversa vem, Barbosa Neto assumiu como prefeito, e a empresa ganhou até uma prorrogação de dois meses. De acordo com a prefeitura, a medida era para que não faltasse a merenda da criançada, enquanto um novo modelo estava sendo planejado. Só não foi bem explicada, na ocasião, a ligação do vice-prefeito de Londrina, José Joaquim Ribeiro, com a SP Alimentação. Segundo informação divulgada pelo jornalista Fábio Silveira, em junho de 2009, a empresa era cliente do escritório de contabilidade de Ribeiro. Ano novo, vida nova! E chega de maçãs podres, pelo menos no lanche da garotada. Um novo sistema foi implantado, com a contratação de cinco novas empresas para fornecer os ingredientes, contratar a mão de obra e preparar as refeições. A proposta é interessante pelo diferencial da especialização dos serviços, o que favorece a economia e a qualidade, teoricamente. É como pedir somente a pizza em casa, e ter na geladeira o refrigerante comprado no supermercado a um preço menor que o da pizzaria. Assim como o açougueiro pode fazer o melhor corte das carnes, mas acaba lhe vendendo um carvão que, por não ser dos melhores, compromete o seu churrasco. Também a fiscalização dos serviços fica mais eficiente, quando a obrigação do fornecedor é mais específica. Enfim, as mudanças parecem estar no caminho certo, mas a credibilidade ainda é uma incerteza nesse processo. A Coan, uma das empresas que venceram a licitação, e que fornece mão de obra para a preparação da merenda em Londrina, é investigada pelo Ministério Público Federal por irregularidades, segundo reportagens publicadas nos jornais Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo, em janeiro deste ano. O cardápio de denúncias e desconfianças é um prato indigesto para o Conselho Municipal de Alimentação Escolar, que tem entre suas atribuições, fiscalizar a aplicação de recursos, zelar pela qualidade dos alimentos servidos e denunciar qualquer irregularidade que chegue ao seu conhecimento. Será que os membros do conselho estão atentos a tudo isso? Ao governo Barbosa Neto, neste seu primeiro aniversário, só nos resta desejar que seu modelo de gestão da merenda escolar seja bem sucedido. Nunca é demais, no entanto, lembrar que maçãs podres precisam ser eliminadas, antes que estraguem todas as outras.

Seja o primeiro a comentar

Postar um comentário

Pesquisar este blog

  ©Template by Dicas Blogger

TOPO